domingo, 11 de maio de 2014

O ícone chamado Major Tom

David Bowie é humano. Aposto que tem dias em que ele acorda sem inspiração, sem vontade de levantar da cama e sem pensar em algo etéreo, de outra dimensão. Mas estes dias são bem raros. A prova disso é sua produção sem fim de material artístico-cultural. Uma de suas criações, inclusive, está para ganhar um bolinho de aniversário: Major Tom, que nasceu junto com o single Space Oddity em 11 de julho de 1969, pode celebrar seus 45 anos, com um sonoro veto à aposentadoria que o tempo tenta obrigá-lo a tirar. O astronauta mais famoso depois de Neil Armstrong (ou tanto quanto) continua influenciando mídias e imaginários, numa trajetória que daria inveja a vinhos e Benjamin Button: realmente quanto mais o tempo passa, mais melhor de bom fica.

E sempre com uma roupagem nova: a quantidade de artistas que utilizaram o persona
gem de Bowie beira o incontável, estatística essa somente auxiliada com o apoio da internet e mídias especializadas. O próprio Wikipedia lista as mais relevantes referências de Major Tom, muitas delas de fácil (re)conhecimento tupiniquim; outras, com um pouco mais de pesquisa, são tão sutis que, de fato, necessitariam de um conhecimento mais profundo do trabalho do britânico mais bem vestido da história, segundo pesquisa da BBC History Magazine.

No início, passei minha impressão de que as homenagens mais recentes a Major Tom seriam melhores que a versão original. Mas, claro, não é uma verdade absoluta. Tanto é que revendo os clipes, singles, filmes e produções em que ele é empregado, percebi que não seria possível manter-me firme nesta convicção. Visões diferentes de um ícone a seguir, mas no formato "de volta para o passado"...


No filme "A Vida Secreta de Walter Mitty" (The Secret Life of Walter Mitty, 2013), a personagem Cheryl Melhoff (Kristen Wiig), num dos últimos devaneios surreais de Walter Mitty (Ben Stiller), canta em um bucólico bar da Groenlândia a versão original de Space Oddity, uma mini-interpretação que inspira Mitty a buscar o paradeiro do seu ídolo Sean O'Connell (Sean Penn). O início despretensioso naquele contexto invoca a essência da canção que a própria Cheryl cita no primeiro terço do filme: "Sabe aquela música, 'Major Tom'? Quando o barbudo ficou... Ele não sabe de nada. É uma música sobre coragem e encarar o desconhecido. É bem legal!" (original: "I wanted to tell you, that song "Major Tom" and that beard guy... he doesn't know what he's talking about. That song is about courage and going into the unknown. It's a cool song").



O astronauta canadense Chris Hadfield foi personificação de Major Tom. Sua interpretação a bordo da Estação Espacial Internacional ainda lhe rendeu mais de 22 milhões de visualizações no Youtube e o provável "título" de primeiro clipe musical feito e transmitido diretamente do espaço sideral! E não foi só um repeteco. Chris adaptou a canção à sua realidade e modificou alguns versos da canção. Logo na primeira estrofe já nos arranca um sorriso de surpresa:

Versão Chris:
Ground control to Major Tom
Ground control to Major Tom
Lock your Soyuz hatch and put your helmet on

Original:
Ground control to Major Tom
Ground control to Major Tom
Take your protein pills and put your helmet on


Voltando para 1983, o cantor alemão Peter Schilling compôs "Major Tom (Coming Home)". Em tempos de Guerra Fria, o single na versão original em alemão e posteriormente em inglês alcançou o Top 5 nas tabelas musicais de pelo menos sete países, dentre eles Canadá, Alemanha Ocidental e África do Sul (fonte: Wikipedia). Nos Estados Unidos, chegou à posição 14 da U.S. Billboard Hot 100. Inegável: é uma versão pra dançar!



Enfim, chegamos à era original de Bowie, de Major Tom... Os clipes acima e abaixo são versões com propostas diferentes, na minha opinião. A dramaticidade impressa no clipe de 1972/1973 é latente: transmite a estória do astronauta, da glória estampada nos jornais à resignação de um fim angustiante, tudo isso através da revisão de melodia, notas e solos nesta versão. Já o single de 1969, o primogênito, Major Tom nasce de uma visão lúdica, de um prelúdio do que seria uma viagem espacial, de uma visita à Lua. Um prelúdio do que seria um dos mais influentes ícones da arte pop e musical. Um mito (pre)destinado ao infinito da imaginação humana, e não ao vazio do espaço sideral.



Parabéns, Major Tom! Volte são e salvo.

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